5 anos de Ponto Cego: a cultura underground como ferramenta da economia criativa no Amapá

Ponto Cego Shop na Feira da Galibis no bairro Buritizal, zona sul de Macapá

A cultura tem se firmado como uma força estratégica na economia global, superando a antiga ideia de que seu valor se limita ao bem-estar social. No Brasil, esse movimento se materializa na chamada economia criativa, que, em 2023, representou 3,11% do PIB e gerou cerca de 7,5 milhões de empregos, espalhados por mais de 130 mil empresas formais, segundo o Ministério da Cultura.

Em abril de 2025, a Ponto Cego celebra cinco anos de existência, consolidando-se como um dos coletivos mais pulsantes da cultura independente no Amapá. A iniciativa, criada por Sarah Ferreira, filha de comerciantes, nasceu de uma inquietação pessoal e cresceu até se tornar um movimento que conecta arte, música e geração de oportunidades.

Sarah Ferreira, criadora da Ponto Cego Shop

A semente foi plantada ainda na adolescência, quando Sarah sentia na pele a dificuldade de encontrar camisetas de bandas de rock em Macapá. “Mandava pintar as estampas à mão, pois não havia opções”, relembra. Aos 18 anos, a ideia de ter uma loja alternativa já rondava sua cabeça, mas foi apenas em 2020, em plena pandemia, que ela decidiu colocar o plano em prática.

O projeto começou como uma loja virtual. Sarah fazia tudo sozinha, desde os pedidos até a criação das estampas, lidando com fretes altos, poucos fornecedores e os desafios de empreender a partir do extremo norte do país. Mesmo assim, ela foi além: transformou a loja em um ponto de encontro para a cena underground amapaense.

Apresentação da Banda Deliquentes (PA)

Colocando Macapá no mapa da música alternativa

O Ponto Cego Fest é a materialização do coletivo. Com a popularização do evento, o grupo passou a convidar bandas de outros estados para se apresentarem no extremo norte do Brasil. “É muito bacana ver o nome da nossa cidade ali na agenda de turnê de uma dessas bandas, no material, sabe quando a banda faz a camisa e atrás coloca as datas da turnê?”, diz Sarah.

Apesar dos ingressos mais caros, reflexo dos custos de logística, os shows ainda são mais acessíveis do que viajar ao sudeste. E a emoção de ver bandas como Surra (SP). Delinquentes (PA) e Baixo Calão (PA) no palco local reacendeu a chama de um público ávido por som pesado.

Mais do que cultura, a Ponto Cego também movimenta a economia. As camisetas são produzidas com serigrafia local e ilustradas por designers da cidade, uma rede que gira na base da colaboração, alimentando a cadeia criativa de ponta a ponta, com a colaboração de diversos profissionais.

Feira Alterna

Esse compromisso se estende à Feira Alterna, realizada dentro da estrutura da Feira dos Galibis, na zona sul de Macapá. O evento reúne brechós, tatuadores, ilustradores e marcas independentes que, em sua maioria, não têm ponto fixo.

A feira chegará à sua quinta edição, prevista para o mês de abril.

Outro braço do projeto é o Faz Teu Nome, que abre espaço para bandas, novas ou veteranas, se apresentarem com base em votação popular. Muitas fizeram ali seus primeiros shows e, hoje, circulam por outros palcos do estado.

Mesmo após cinco anos enfrentando os altos e baixos de empreender de forma independente, a motivação continua firme. Sarah conta que pretende ter um espaço físico da loja e seguirá na busca por fazer a ponte entre artistas independentes de outros estados e o Amapá.

“Os planos para os próximos cinco anos da Ponto Cego? Eu não sei, porque é igual ao filme 2012. Eu esperava que o ano acabasse e não acabou… e aí, agora? Mas, falando sério, a Ponto Cego é a realização de um sonho. É estar vivendo, trabalhar com o que eu gosto, com o público que eu gosto, fazendo o que eu sempre gostei desde a adolescência. Não foi só uma fase”, projeta Sarah.

Sobre o conceito “Underground”

A cultura underground representa expressões artísticas e sociais que operam à margem das normas convencionais e da cultura dominante. Ela valoriza a autenticidade, a independência e a experimentação, frequentemente associada a movimentos contraculturais e subculturas.

Em contraste, o mainstream refere-se às tendências culturais amplamente aceitas e promovidas pela mídia de massa, visando alcançar o maior público possível com produções comerciais e padronizadas.

No Amapá, a cultura underground desempenha um papel vital na economia criativa, oferecendo plataformas alternativas para artistas e coletivos expressarem suas identidades e promoverem a diversidade cultural da região.

COMPARTILHE!

Comentários:

Notícias Relacionadas

plugins premium WordPress