Segundo a Delegacia de Repressão ao Narcotráfico (Denarc), apenas nos últimos 12 meses, mais de uma tonelada de drogas foi apreendida no estado

O estado do Amapá tem emergido como um dos principais corredores do tráfico internacional de drogas na Amazônia, sendo alvo constante de operações policiais que visam combater o avanço das facções criminosas na região. Localizado em posição estratégica na foz do rio Amazonas e com vasta malha fluvial, o estado se tornou rota para o escoamento de grandes carregamentos de entorpecentes, especialmente cocaína, com destino à Europa.
Submarino com cocaína zarpou de Macapá
Em março de 2025, um caso emblemático chamou a atenção das autoridades internacionais. Um submarino carregado com 6,6 toneladas de cocaína foi interceptado pela Marinha de Portugal próximo às Ilhas dos Açores. A embarcação havia partido de Macapá, capital do Amapá, e tinha como destino o porto de Sines, em território português. A ação foi resultado de uma operação conjunta envolvendo forças portuguesas, britânicas, espanholas e norte-americanas.
As autoridades europeias informaram que a embarcação foi construída por cartéis da América do Sul e que entre os tripulantes presos estavam três brasileiros, um colombiano e um espanhol. A magnitude da operação demonstrou que o Amapá já integra, de forma efetiva, o circuito logístico do narcotráfico internacional.

Recordes de apreensão revelam dimensão do problema
No último dia 04/06 a Polícia Civil do Amapá realizou a maior apreensão da história do estado: foram apreendidos cerca de 400 quilos de entorpecentes tipo cocaína em 348 pacotes encontrados no distrito de Abacate da Pedreira, zona rural de Macapá. A carga foi avaliada em aproximadamente R$ 170 milhões se considerada a escala de venda internacional.
Cerca de um ano atrás, em junho de 2024, outra grande apreensão, de 218 quilos de entorpecentes, foi realizada no município de Laranjal do Jari. Três suspeitos foram presos e uma arma de uso restrito foi encontrada. Estima-se que essa operação tenha causado um prejuízo superior a R$ 6 milhões às organizações criminosas.
Segundo a Delegacia de Repressão ao Narcotráfico (Denarc), apenas nos últimos 12 meses, mais de uma tonelada de drogas foi apreendida no estado, além da prisão de mais de 200 pessoas. As operações também têm focado na descapitalização das organizações criminosas, com a apreensão de bens, embarcações e valores.

Logística fluvial favorece o crime
A extensa malha hidrográfica do Amapá, com rios que conectam o estado ao Amazonas, ao Pará e ao Oceano Atlântico, facilita o transporte fluvial de grandes quantidades de entorpecentes. A reportagem da revista Veja aponta que a Amazônia se tornou a principal rota de exportação de cocaína da América do Sul para a Europa, justamente pela dificuldade de controle em áreas remotas e pela vasta extensão de rios navegáveis.
As facções criminosas, como o PCC e o Comando Vermelho, têm se estruturado na região com apoio de grupos locais, dominando rotas e comunidades ribeirinhas. A utilização de pequenas embarcações, balsas e até submarinos artesanais permite que a droga saia do interior da floresta até portos estratégicos para posterior envio ao exterior.
O desafio das forças de segurança
Para o delegado-geral da PC, em exercício, Ronaldo Coelho a crescente quantidade de drogas interceptada demonstra o aumento da presença policial e efetividade no combate ao crime organizado na região.
“Garantimos que estamos diuturnamente aqui, prontos para combater todo e qualquer crime, e dizer para a sociedade amapaense: estamos preparados para enfrentar toda essa criminalidade. Essa apreensão é resultado direto do trabalho conjunto da Polícia Civil, com apoio das forças de segurança e representa um golpe significativo no crime organizado”, afirmou Coelho.
Apesar do fortalecimento das ações policiais, os desafios permanecem enormes. O secretário interino de Justiça e Segurança Pública do Amapá, Daniel Marsili, destaca que a repressão ao tráfico é essencial para a redução dos índices de homicídios, uma vez que as facções utilizam os lucros da droga para financiar disputas territoriais e armamentos.

Entretanto a dificuldade de acesso a áreas isoladas e a fragilidade da fiscalização portuária e fluvial tornam o combate desigual. As forças locais, como a Polícia Civil, contam com o apoio de programas como o “Amapá Mais Seguro”, mas ainda dependem de maior integração com órgãos federais como a Polícia Federal, Força Nacional e agências internacionais de combate ao narcotráfico.
Cooperação e inteligência
A atuação conjunta entre órgãos de segurança tem se mostrado vital. As recentes apreensões só foram possíveis graças ao trabalho de inteligência e à integração entre Polícia Civil, Polícia Federal, Denarc, Core, Nepon e GTA. Além disso, a população tem desempenhado papel fundamental por meio de denúncias anônimas, fortalecendo as investigações.

Diante da internacionalização do crime organizado na região amazônica, autoridades apontam a necessidade de políticas públicas mais amplas, que incluam o fortalecimento das fronteiras, investimentos em inteligência, fiscalização ambiental e desenvolvimento social das áreas mais vulneráveis à influência do tráfico.
O Amapá, cada vez mais inserido no mapa do narcotráfico internacional, exige vigilância constante e resposta estratégica articulada entre as esferas local, nacional e internacional.