Divergência nos dados e autoria da operação levanta questionamentos sobre articulação entre órgãos federais no combate a crimes ambientais no estado

Um episódio envolvendo a apreensão de madeira ilegal no município de Mazagão, no Amapá, revelou um conflito de informações entre a Polícia Rodoviária Federal (PRF/AP) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama/AP). A operação, inicialmente divulgada como a maior da história do estado no combate a extração ilegal de madeira, passou a ser questionada após o Ibama contestar os dados apresentados e negar participação direta na ação.
De acordo com nota publicada no site oficial da PRF, a abordagem ocorreu na BR-156, próximo à comunidade do Maracá, e teria resultado na apreensão de 556 metros cúbicos de madeira.
Entretanto, uma fonte do Ibama/AP, que preferiu não se identificar, informou ao ConectAmapá que o número divulgado estaria incompatível com a realidade. Segundo essa fonte, o volume real apreendido seria de apenas 5,56 metros cúbicos, o que equivale à carga de um único caminhão, e não à expressiva quantidade anunciada pela PRF, “que representa aproximadamente 15 carretas carregadas com o material”, informou.
Além da discrepância nos números, o Ibama também negou ter atuado na operação, contradizendo o conteúdo da reportagem publicada no site oficial da PRF, que afirmava se tratar de uma ação conjunta entre os dois órgãos.
“Eles divulgaram que foram apreendidos 500 metros cúbicos de madeira, mas na verdade o volume é de pouco mais de cinco metros cúbicos. Por isso, o Ibama decidiu não se pronunciar até que a PRF retifique seu relatório”, declarou a fonte ouvida pela reportagem.
Após ser novamente procurada, a Polícia Rodoviária Federal no Amapá reafirmou os dados divulgados em sua nota original, mantendo a informação de que a apreensão foi, de fato, a maior já registrada no estado. No entanto, reconheceu que a operação foi realizada exclusivamente pela PRF, sem a participação do Ibama, corrigindo a alegação inicial de parceria institucional.
Falhas de comunicação e impactos na credibilidade
O caso expõe falhas na articulação e comunicação entre órgãos públicos, especialmente em operações que envolvem crimes ambientais, tema de crescente atenção nacional e internacional. Especialistas alertam que divergências como essa comprometem a transparência, a confiança da população e a efetividade das ações de fiscalização ambiental.
A ausência de um posicionamento oficial conjunto sobre a operação e a não retificação dos dados por parte dos envolvidos acirram dúvidas sobre a veracidade das informações e a condução do processo.
Até o fechamento desta reportagem, o Ibama/AP mantinha sua decisão de não se manifestar publicamente até que os dados oficiais sejam corrigidos.

Entenda o caso
- Local da apreensão: BR-156, próximo à comunidade do Maracá, em Mazagão (AP)
- Data da divulgação: 19 de maio de 2024
- Versão da PRF: 556 m³ de madeira ilegal apreendidos; maior apreensão da história do Amapá
- Versão do Ibama: apenas 5,56 m³ de madeira; órgão nega participação na operação
- Situação atual: dados contraditórios e ausência de esclarecimento oficial conjunto
O ConectAmapá segue acompanhando o caso e cobrando posicionamentos claros dos órgãos envolvidos. A transparência e a união entre instituições são essenciais no enfrentamento aos crimes ambientais que ameaçam os recursos naturais e a credibilidade do Estado.