Por *JOÃO ALBERTO CAPIBERIBE

Estamos em maio. A estiagem na Amazônia costuma começar em agosto, ganhar força em setembro e atingir seu ápice entre outubro e novembro — justamente no período em que acontecerá a COP 30 em Belém. Estiagem e COP 30: o que tem a ver uma coisa com a outra?
Em 2023 e 2024, vivemos as duas maiores secas da história do bioma amazônico. Rios secaram diante dos nossos olhos incrédulos. As consequências foram devastadoras: comunidades isoladas, peixes mortos aos milhões, calor sufocante, alimentos com preços recordes. Diante dessas cenas dantescas, mostradas em tempo real pela imprensa, surge a pergunta: esse novo “normal” veio para ficar?
Muita gente acredita que não, que em 2025 tudo voltará ao velho normal. Outros confiam que as novas tecnologias de sequestro de carbono nos salvarão — o que, até aqui, parece uma aposta duvidosa. Sim, essas tecnologias podem ajudar a baixar, timidamente, a febre do planeta. Mas não são suficientes diante da urgência imposta pelos extremos climáticos. Precisamos de muito mais — e muito mais rápido.
COP 30? O que é isso?
A COP 30 é a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), criada durante a Cúpula da Terra, no Rio de Janeiro, em 1992. A primeira COP ocorreu em 1995, na Alemanha. Desde então, líderes mundiais se reúnem anualmente para negociar soluções frente às mudanças climáticas. Para subsidiar essas decisões com dados científicos, a ONU criou, em 1988, o IPCC — o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas — composto por especialistas do mundo inteiro, responsáveis por estudos que medem o impacto da ação humana sobre o clima. Seus relatórios são técnicos, complexos e, muitas vezes, lidos em voz baixa durante as conferências — para não alarmar os consumidores de combustíveis fósseis, responsáveis por 75% das emissões de gases de efeito estufa. Essas emissões causaram o aumento de 1,5 ºC na temperatura média do planeta desde a era pré-industrial, intensificando os eventos climáticos extremos.
Depois da seca, o ciclo se inverte: o Rio Amazonas volta a subir, transborda e inunda — principalmente as comunidades mais pobres e distantes. Já os moradores urbanos da Amazônia, acostumados ao asfalto, ainda não perceberam a gravidade da situação. Sentem no bolso, claro — energia mais cara, transporte mais caro, açaí e camarão mais caros — mas não conseguem ligar diretamente esses aumentos à crise climática.
Mas afinal, vai ter seca em 2025?
Os dados meteorológicos de janeiro a abril de 2025 já indicam chuvas abaixo da média em áreas importantes da Amazônia Ocidental. Além disso, a influência do fenômeno El Niño, que contribuiu para as secas recordes anteriores, começou a perder força, mas ainda deixa um rastro de desequilíbrio nos sistemas atmosféricos. Por outro lado, não há sinais claros de uma recuperação suficiente da umidade para evitar uma nova estiagem severa. A previsão é de uma estiagem intensa, possivelmente não tão extrema quanto as de 2023 e 2024, mas ainda assim preocupante.
Se a seca se confirmar durante a COP 30, o mundo terá diante de si uma contradição escancarada: enquanto líderes globais discutem soluções para o clima, a própria floresta que sedia o evento estará agonizando. Isso poderá gerar maior pressão por compromissos mais concretos — ou, tragicamente, poderá apenas reforçar discursos de solidariedade vazia, se não houver ação à altura da urgência climática.
*Ex preso político, ex prefeito, ex governador, ex senador, autor da Lei Complementar 131/2009, a Lei da Transparência. Atualmente empresário da bioeconomia. Ambientalista sempre!