Farra dos shows com dinheiro público levanta questionamentos nos municípios — em Macapá não é diferente

Na capital Macapá, a política de shows se tornou marca registrada da gestão do prefeito Antônio Furlan (MDB)

Uma série de investigações conduzidas pelo Ministério Público em diversos estados brasileiros acendeu o alerta para o uso de recursos públicos na contratação de shows artísticos com valores considerados exorbitantes. O caso mais recente vem do Mato Grosso, onde a Justiça determinou que o cantor Leonardo devolva R$ 300 mil aos cofres da Prefeitura de Gaúcha do Norte. Ele havia recebido R$ 750 mil por uma apresentação, valor que, segundo o Ministério Público Estadual (MPE), estaria superfaturado.

Esse episódio reacende o debate sobre os altos custos de shows bancados por prefeituras, muitas delas com graves problemas financeiros. O problema não é novo. Em 2022, o cantor Gusttavo Lima foi o centro de diversas polêmicas após contratos milionários com municípios de pequeno porte, como São Luiz (RR), com apenas 8 mil habitantes, que lhe pagaria R$ 800 mil. Em Minas Gerais, um contrato de R$ 1,2 milhão em Conceição do Mato Dentro foi cancelado após pressão do MPE. Na Bahia, o show de R$ 704 mil que ocorreria na Festa da Banana de Teolândia também foi suspenso por decisão judicial, levando a prefeita Rosa Batinga às lágrimas em público.

Conhecido como “CPI do Sertanejo”, o escândalo gerou reações em cadeia. Em Alagoas, o Ministério Público chegou a pedir o cancelamento de uma apresentação de Wesley Safadão, que custaria R$ 600 mil aos cofres da pequena cidade de Viçosa. Procuradores apontaram que gastos com festas deveriam se limitar a R$ 100 mil. Reportagem publicada no ICL Notícias revelou que, em algumas cidades, os cachês de Gusttavo Lima consumiam até 50% do orçamento municipal destinado à cultura.

Amapá também entra no radar

No Amapá, os indícios de gastos públicos com shows também chamam atenção. Em dezembro de 2024, a Prefeitura de Oiapoque, mesmo em situação de calamidade financeira, contratou por R$ 260 mil a aparelhagem “Prince Negro”, de Belém do Pará, para a festa de Réveillon. Apenas um mês antes, o prefeito Breno Lima de Almeida (PP) havia decretado estado de calamidade, citando bloqueios judiciais e dificuldades para manter serviços públicos essenciais.

Oiapoque é um dos municípios mais pobres do estado, onde a maioria da população depende diretamente do setor público para sobreviver. A decisão de gastar em festa diante da crise orçamentária provocou reações críticas entre moradores e especialistas.

Na capital Macapá, a política de shows se tornou marca registrada da gestão do prefeito Antônio Furlan (MDB), reeleito em 2024 com mais de 80% dos votos. O gestor transformou os grandes espetáculos em estratégia de marketing político, comparecendo aos palcos ao lado de artistas e promovendo concursos de sósias e coreografias.

Apesar da popularidade garantida com a política do “pão e circo”, o valor gasto com os eventos segue sendo um mistério. O Portal da Transparência da Prefeitura de Macapá encontra-se desatualizado, impossibilitando a população de acompanhar os gastos com as contratações artísticas.

Macapá figura entre as capitais mais pobres do Brasil e sofre com deficiências crônicas em saúde, educação e infraestrutura. Mesmo sem provas de superfaturamento, especialistas alertam que os recursos direcionados a shows poderiam ser melhor investidos em áreas essenciais para o bem-estar da população.

A sucessão de casos em diferentes estados mostra que a farra com dinheiro público para festas não é exclusividade de uma região. Em meio às investigações e decisões judiciais, cresce o clamor por mais responsabilidade fiscal, transparência e prioridade nas necessidades básicas da população.

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