No último dia 22 de julho morreu no Hospital de Emergência de Macapá o adolescente GBL, conhecido por Gabrielzinho, de 15 anos de idade. No domingo, dia 21, o menor foi alvejado por um desconhecido que chegou ao local onde a vítima se encontrava e efetuou diversos vários disparos no menor.
O caso, com características de morte encomendada ou acerto de contas, já se tornou comum nos últimos anos e faz parte de uma estatística que vem amedrontando a população amapaense e colocou o pequeno o Amapá no topo do ranking das unidades da federação mais violentas do país.
Em 10 anos o número de homicídios no Estado saltou de 209 em 2011 para 462 em 2021, crescimento de 121,1% . Entre 2009 (209 homicídios) e 2015 (293 homicídios) o crescimento se mantinha dentro da média, porém a partir de 2016 o estado entra em uma escalada de violência e mortes que somente tem crescido a cada ano.
Os dados fazem parte do Atlas da Violência, um relatório atualizado dos dados de violência no Brasil, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
De acordo com o relatório o estado do Amapá teve, em 2017, os três municípios mais violentos concentrados na região leste. Por seu turno, houve uma grande taxa em Ferreira Gomes (68,8) e na capital Macapá (54,1), pertencentes à mesorregião sul, e outra em Tartarugalzinho (56,9), no norte do Amapá. Para o Ipea esses municípios possuíam índices de letalidade substancialmente acima da média do estado (48,1) e devem ter correlação com o fato de as rodovias BR-156 e BR-210 passarem por eles, o que cria fluxos mais intensos de pessoas e de mercadorias e contribui para a diminuição do controle social da violência.

Mesmo com o crescimento vertiginoso, até então o Estado e os municípios amapaenses ainda não integravam o ranking das Unidades da Federação mais violentos do país.
Crescimento significativo teve inicio em 2019
Já no ano seguinte, analisando a variação no último ano, observou-se que duas UFs lograram maior aumento na taxa de homicídios em 2018, em relação ao ano anterior; Roraima (+51,3%) e Amapá (+7%).
Para os pesquisadores do Atlas da Violência a fronteira do Amapá com a Guiana Francesa estaria entre as principais causas do problema. A questão da migração e do tráfico ilegal entre os dois territórios também exerceu influência na taxa de criminalidade no estado, conforme apontado no relatório do Overseas Security Advisory Council (OSAC), uma joint venture entre o Departamento de Estado norte-americano e o setor privado. Segundo o relatório da OSAC, French Guiana 2019 Crime & Safety Report, o crime violento naquele departamento ultramarino francês tem aumentado nos últimos anos, no rastro das altas taxas de pobreza, desemprego e desigualdade econômica e das questões criminais que envolvem migração e tráfico ilegais, que ocorrem ao longo da fronteira com o Brasil.
Em 2019 o Estado já liderava os níveis de violência juvenil no país. Os valores variaram entre 101,8 homicídios a cada 100 mil jovens no Amapá em comparação a 12,5 homicídios a cada 100 mil jovens em São Paulo. Quinze estados apresentaram taxas maiores do que a média nacional, que foi de 45,8 mortos para cada 100 mil jovens. As UFs com as maiores taxas de mortalidade violenta juvenil foram Amapá, Bahia e Sergipe, enquanto, em 2018, as primeiras colocações foram ocupadas por Roraima, Rio Grande do Norte e Ceará.

Em 2021 o Amapá e Bahia continuaram como as duas UFs mais violentas do país, com taxas de 128,1 e 121,2 homicídios por 100 mil jovens, que correspondem a mais de doze vezes o indicador de São Paulo, a UF com menor taxa de letalidade juvenil (10,5), seguida por Santa Catarina (18,3), Distrito Federal (21,4) e Minas Gerais (23,7).
Já entre 2012 e 2022, nos onze anos analisados, o Distrito Federal reduziu a mortalidade violenta em -67,4%, seguido por São Paulo (-55,3%) e Goiás (-47,7%). No extremo oposto, os maiores aumentos das taxas de homicídio foram observados no Piauí (47,9%), Amapá (15,4%) e Roraima (14,5%). Considerando as variações entre 2017 e 2022, as maiores reduções ficaram por conta do Acre, que logrou diminuição de -57,0%, seguido do Rio Grande do Norte (-49,1%) e Ceará (-45,9%). Apenas duas UFs obtiveram aumento da violência nesse período, Piauí (25,5%) e Rondônia (2,8%).
Vários estados do Norte do país, por estarem sujeitos à atuação intensa de pelo menos dez organizações criminosas internacionais, com atuação em regiões de fronteira (conforme detalhado no Atlas da Violência 2024 – Retrato dos Municípios Brasileiros) e por possuírem quantitativo populacional menor, possuem maiores variâncias nas taxas de homicídio ao longo do tempo, uma vez que contendas locais ligadas ao narcotráfico já são suficientes para impulsionar substancialmente os indicadores, como é o caso do Amapá e do Amazonas.