
O Instituto Federal do Amapá (Ifap) busca a interiorização e a aproximação com as populações tradicionais do estado, dentre elas, a ribeirinha, por meio da implantação de um campus fluvial. Com a oferta de qualificação profissional, o Ifap espera fortalecer a economia e promover o desenvolvimento sustentável, formando profissionais aptos a atuar em seu próprio território. A proposta foi formalizada junto ao Ministério da Educação e está em processo de análise de viabilidade.
Hoje com seis campus em funcionamento – Laranjal do Jari, Macapá, Oiapoque, Porto Grande, Pedra Branca do Amapari e Santana – e um em construção, no município de Tartarugalzinho – o Ifap considera que a implantação da futura unidade pode ser inserida no plano de expansão dos Institutos Federais em execução pelo Ministério da Educação, promovendo a inclusão das populações ribeirinhas, historicamente mais isoladas, como é o caso daquelas localizadas na foz do Rio Amazonas.
O formato “fluvial” do campus sinaliza uma estrutura pensada para o acesso por embarcação, atendendo diretamente às comunidades locais ou até mesmo às mais isoladas para a oferta de cursos de qualificação profissional, desde a formação inicial e continuada (FIC) até a graduação ou pós-graduação. Este modelo representa uma adaptação à logística regional, levando o ensino até quem vive às margens dos rios e longe dos grandes centros urbanos.
Cursos voltados à realidade local
O campus está sendo “desenhado” para ofertar cursos nas áreas de Sistemas de Energias Renováveis, Agricultura Familiar, Condução de Turismo, Pesca e áreas correlatas para atender à demanda local que se concentra em atividades rurais e extrativistas.
Cerca de 800 vagas devem ser ofertadas por ano nas diversas modalidades de ensino, garantindo o acesso à educação técnica e tecnológica, profissionalização, pesquisa, extensão e inovação. Ao mesmo tempo, serão geradas oportunidades para ingresso no serviço público por meio de concursos e seleções de profissionais docentes e técnicos.
De acordo com o reitor do Ifap, Romaro Silva, historicamente, desde a criação das primeiras escolas de artifício e, depois, com a Rede Federal, as instituições de ensino ficaram restritas aos grandes centros e às capitais. “A partir de 2008, com a expansão e a democratização por meio da criação dos institutos federais, nós começamos a ter uma capilaridade dentro dos territórios brasileiros. Aos olhos do governo federal, regiões como a Ilha do Marajó e as Ilhas do Bailique compõem um espaço necessário para que o Estado consiga chegar com a educação pública”, explicou o reitor.
Segundo o gestor, o Campus Fluvial “seria uma unidade que teria como missão levar educação profissional para essas regiões, para esses territórios, por meio dos nossos rios, em especial pela realidade que compõe o cenário amazônico”.
“Estamos na fase inicial, fizemos o projeto, desenhamos, levantamos os custos, protocolamos no Ministério da Educação e agora nós precisamos do aporte financeiro, obviamente, para a implantação, que pode ser feito via PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) ou emenda parlamentar ou pelo próprio MEC”, explicou o reitor.
“Acreditamos que o apelo social tem um papel fundamental neste processo e se é o que a comunidade quer ela pode nos ajudar junto às autoridades políticas”, disse Romaro Silva, explicando o processo atual do projeto e como ele pode se tornar uma realidade. O projeto foi protocolado junto ao MEC e aguarda aprovação. Caso aprovado, recebe a autorização para funcionamento e o aporte financeiro para aquisição de toda a estrutura.
Uma ideia que virou projeto institucional
O reitor lembrou que o projeto nasceu com a sugestão proposta pelo professor Pedro Aquino, atualmente lotado no Campus Santana, que sugeriu a realização de atividades de extensão em comunidades tradicionais do estado, com a oferta de cursos de formação inicial e continuada (FIC).
“A ideia ocorreu a partir da observação e da escuta dos ribeirinhos e das lideranças das comunidades do rio Bucuituba, na ilha Caviana, município de Chaves-PA, na ilha do Marajó, e também da comunidade da ilha das Cinzas, no município de Gurupá-AP. Então ouvindo, observando a situação e escutando as angústias das comunidades, estudando a problemática deles, é que surgiu a ideia. Propor a educação como caminho para a solução dos problemas que lá são apresentados”, relatou o professor.
A partir desta sugestão, a ideia amadureceu para o projeto do Campus Fluvial, fruto do trabalho de uma comissão composta, além do professor Aquino, por membros de comunidades tradicionais, profissionais da área de navegação, engenheiros navais, docentes e gestores do Ifap. “É uma proposta que vem ganhando robustez com o apoio de várias mãos, uma proposta coletiva”, ressaltou Romaro Silva.